Leitura como autoconstrução do educador
terça-feira, 19 de janeiro de 2010 by Reciclagem de Artigos in

Quando cursamos licenciatura, está presente um forte comprometimento em se educar.
Ler é a arte de desatar nós cegos, disse Goethe certa vez, mas para um educador, pode acirrar outros tanto, e assim essa lida nos faz perseguidores de um melhor entendimento, pois, tanto para aprender como para ensinar é prática imprescindível.
Existe um 'livrinho de bolso' chamado Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire que deixa insuportável não considerá-lo como essencial a todos os que desejem iniciar estudos com o objetivo de se tornar 'professor'.
Mas quando alguém se torna professor?
Certamente quando perde a dimensão daquilo que faz do processo ensino-aprendizagem ser o que é.
O que quero contar deste 'livrinho', é que no primeiro capítulo intitulado 'não há docência sem discência', ele demonstra qual a percepção de um educador comprometido com a educação, a ponto de fazer indagar sobre quais são as reais competências e habilidades que devem ser desenvolvidas no processo de formação...
Opa; escrevi formação!
Pena que não se perceba a dimensão prática do método Paulo Freire aqui no Brasil, pois educar para ele, não é formar, fazer reproduzir, mas criar, desenvolver, superar.
'O educador democrático não pode negar-se o dever de, na sua prática docente, reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão...'
Quantos nós se percebe nesta simples frase, pois, o quanto depende do educador, e do educando?
Tendo como interlocutores universitários, adultos e já 'resolvidos', sujeitos que já escolheram e que se dispuseram a gastar uma boa quantia em dinheiro como meta para atingir o objetivo, o quanto este deve querer?
Note que enquanto tentamos desatar este nó, o acirramos mais ainda. Afinal, por que estamos estudando?
É comum, nos corredores da universidade, ouvir educandos das áreas de exatas e biológicas, cursos que também são oferecidos como licenciatura, tecer todos os tipos de comentários pejorativos às disciplinas pedagógicas – até se entende a ojeriza destes, pois entram com a pretensão de se tornarem profissionais como primeira escolha e o dar aulas; só se for o caso.
Entretanto, esses comentários são comuns também entre os educandos da área de humanas; como desatar este nó?
Continuando a transcrição do parágrafo já citado anteriormente, lemos:
'...uma de suas tarefas primordiais (do educador) é trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica com quem deve se 'aproximar' dos objetos cognoscíveis. E esta rigorosidade metódica não tem nada que ver com o discurso 'bancário' meramente transferidor do perfil do objeto ou do conteúdo...'
Percebemos assim, que também depende do educador como um agente motivador, pois o que se espera deste é uma leitura constante da realidade para, a partir do entendimento, inovar, construir, superar o cotidiano etc.
Pois, continua Paulo Freire '...essas condições implicam ou exigem a presença de educadores e de educandos criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. Faz parte das condições em que aprender criticamente é possível a pressuposição por parte dos educandos de que o educador já teve ou continua tendo experiência da produção de certos saberes e que estes não podem a eles, os educandos, ser simplesmente transferidos. Pelo contrário, nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo...'
Isso impõe a necessidade de entender a educação como um processo dinâmico, mas mesmo nos bancos universitários, que deveriam criar e recriar saberes, persiste a inércia, algo resistente às inovações, ou seja, nos colocam sentados sobre um livro de história.
Aqui não falo de sistemas educacionais, mas da educação em si, como uma busca da plenitude pelo sujeito visando à superação daquilo que se está sendo, portanto, a liberdade entendida como a capacidade inerente a todo o sujeito de se transformar.
Possibilidade de escolher, como Sartre nos propõe.
Então, '...só assim podemos falar realmente de saber ensinado, em que o objeto ensinado é apreendido na sua razão de ser e, portanto, aprendido pelos educandos'.
Quer se construir como educador?
Leia atentamente este livro.
Pois, toda a citação utilizada aqui, compõe apenas um único parágrafo da Pedagogia da Autonomia, exposto nas páginas 28 e 29.