Reflexões sobre a educação
domingo, 3 de janeiro de 2010 by Reciclagem de Artigos in

Reflexões sobre a educação*

Início do século XXI vive-se um período conturbado, onde a quebra dos paradigmas está impregnando atos, valores e omissões no seio da sociedade. O descrédito em relação ao papel do Estado, a desestruturação da família e os questionamentos sobre o envolvimento do indivíduo perante a coletividade demonstram que, em muitos casos, as grandes epopéias não funcionam mais e hoje ninguém parece acreditar em uma grande revolução social.
Na verdade, é muito cedo para não crer mais no país. Ainda há sonhadores que buscam possibilidades para se encontrar novos caminhos para o Brasil, e parecem adotar um mesmo discurso, ao unirem seus conjuntos de convicções e enfatizarem que a educação seria o principal meio para a tão esperada transformação do povo brasileiro.
No entanto, ao se adotar que a educação possa incorporar o papel de protagonista da mudança social, tem-se um grande abismo a ser transpassado, pois, afinal, a escola solidifica os valores de uma sociedade ou os transforma? Esse questionamento que poderia ser o início para sérios debates e apontamentos, ainda está longe de ser respondido, até porque a sociedade ainda insiste em não encontrar as soluções para a falta de valorização dos profissionais da educação, para os problemas no modelo de formação dos alunos e para a inexistência de uma séria política educacional.
Ainda é possível somar a esta desestruturação da instituição escolar, a perda do poder aquisitivo dos professores, a falta de ampliação da rede pública de ensino, a falta de profissionalização dos gestores educacionais, a cobrança das comunidades sem a existência de canais maduros para a relação escola-comunidade e o desemprego dos alunos-trabalhadores e de seus familiares.
Como professor da escola pública do Estado de São Paulo há sete anos, quero salientar que me considero um desses sonhadores que almejam transformações via educação. Seria um grande equívoco perder as esperanças no futuro quando na verdade todo o trabalho como professor consiste em convencer cada aluno de que é possível assumir, prolongar e subverter a própria história.
Porém, quero ser eficaz como professor, mas não em quaisquer condições! Quero pesquisar, construir, analisar, confrontar com colegas e com especialistas, situações de aprendizagem. Quero que a escola pública me ofereça reais condições de trabalho, com variedade de materiais pedagógicos e com menos alunos em sala de aula. Quero fazer parte de um sistema onde eu possa demonstrar que o ato de aprender e ensinar seja uma verdadeira “operação mental” e não a aquisição de um reflexo condicionado, sustentado e “escorado”. Quero ter um salário digno que não me obrigue a ter uma jornada de trabalho tão árdua. Quero enfim, ter condições na rede pública estadual, de demonstrar para meus alunos que só é agindo que se pode aprender.
Como um profissional da educação consigo perceber também que existe por parte da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo uma perigosa ilusão na busca obstinada de racionalização dos índices de aprendizagens. Será que realmente se pode reduzir a avaliação de nossas escolas e de seus professores apenas aos indicadores de êxito escolar? Então porque não oferecer que 100% dos meus alunos tenham a possibilidade de fazer uma pesquisa, de preparar um ensaio e de falar durante uma hora sobre um assunto perante o grupo? Índice alto? Então porque não proporcionar que 40% estejam envolvidos em um projeto artístico, cultural ou esportivo? Ou até mesmo que 30% deles possam ser incluídos digitalmente, ou freqüentem efetivamente uma biblioteca ou um centro de documentação?
Se a educação for realmente o mecanismo revolucionário de nossa cidade, de nosso estado e de nosso país, que muitos sonhadores acreditam ser, precisamos demonstrar que o ato de ensinar deve ser incorporado pelo desejo da transformação por meio de um projeto que definitivamente demonstre como se constrói a sociedade. Afinal a educação não tem futuro, ela é o futuro.